Se você está estudando para concursos públicos ou iniciando sua jornada no Direito Penal, é fundamental dominar a Lei 8.072/1990 — a chamada Lei dos Crimes Hediondos. Esse diploma legal é um dos mais cobrados nas provas e aparece com frequência tanto em questões objetivas quanto nas discursivas. Além disso, o tema é recorrente em debates jurídicos e carrega uma forte carga simbólica, por tratar de crimes que abalam a ordem social de maneira intensa.
Neste artigo, vamos explorar os principais pontos da Lei de forma clara, direta e estratégica. Você vai entender por que ela foi criada, como é estruturada, quais são os crimes que ela abrange e quais consequências legais envolvem sua aplicação.
O surgimento dos “crimes hediondos” no ordenamento jurídico
Antes mesmo da existência da Lei 8.072/1990, o termo “crimes hediondos” já havia aparecido no nosso ordenamento jurídico. Surpreendentemente, essa expressão surgiu na própria Constituição Federal de 1988, mais especificamente no artigo 5º, inciso XLIII. Esse dispositivo estabelece que crimes como tortura, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo e os definidos como hediondos são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia.
Contudo, naquela época, a Constituição não definia exatamente o que seria um crime hediondo. Isso criou uma lacuna normativa. Afinal, como aplicar penalidades específicas a crimes que nem sequer estavam tipificados? Foi somente em 1990 que essa lacuna foi preenchida com o advento da Lei 8.072. A partir de então, o legislador definiu expressamente quais crimes seriam considerados hediondos.
Por que essa lei é tão importante para o Direito Penal?
A Lei dos Crimes Hediondos tem uma função bastante clara: estabelecer um regime penal mais severo para certos delitos que, por sua gravidade, chocam a sociedade. Esses crimes afetam valores essenciais à convivência civilizada, como a vida, a integridade física, a dignidade sexual e a saúde pública.
Dessa forma, a Lei 8.072/1990 trouxe uma série de vedações específicas, como a proibição de anistia, graça, indulto e fiança. Além disso, ela impõe um regime de cumprimento de pena mais rígido, como o início do cumprimento em regime fechado e progressão de pena mais lenta.
Portanto, para quem almeja uma carreira pública na área jurídica, dominar essa legislação é um passo obrigatório.
O critério legal e o rol taxativo
Um ponto essencial para quem estuda essa lei é compreender o critério de definição adotado. Diferente de outros países que utilizam critérios judiciais ou mistos, o Brasil adota o chamado critério legal. Isso significa que somente o legislador pode definir, por meio de lei, quais crimes são considerados hediondos.
E mais: esse rol é taxativo, ou seja, fechado. O juiz não pode incluir ou excluir crimes dessa lista. Assim, qualquer tentativa de ampliar esse rol por analogia ou interpretação extensiva em desfavor do réu fere diretamente o princípio da legalidade, basilar no Direito Penal.
Quais são os crimes considerados hediondos?
O artigo 1º da Lei 8.072/1990 apresenta uma lista específica de crimes considerados hediondos, todos com previsão no Código Penal — com uma única exceção, que será abordada adiante. Vamos aos principais:
Homicídio qualificado
A lei considera hediondo o homicídio praticado com qualificadoras, como por motivo torpe, fútil, uso de meio cruel ou que impossibilite a defesa da vítima.
Perguntar ao ChatGPTO homicídio simples, por outro lado, não entra no rol, salvo quando praticado por grupo de extermínio.
Feminicídio
Embora não esteja expressamente na Lei 8.072, o feminicídio é uma forma de homicídio qualificado. Logo, também é considerado hediondo.
Latrocínio (roubo seguido de morte)
Tipificado no artigo 157, §3º, do Código Penal, o latrocínio figura entre os crimes mais cobrados em concursos e possui natureza hedionda inquestionável.
Estupro e estupro de vulnerável
Tanto a violação sexual mediante violência quanto os casos em que a vítima é vulnerável (como crianças e pessoas com deficiência) entram no rol dos crimes hediondos.
Extorsão mediante sequestro (e suas formas qualificadas)
A legislação trata esse crime com extrema severidade, especialmente quando ele resulta em morte ou dura mais de 24 horas.
Lesão corporal dolosa gravíssima contra autoridades
Essa tipificação foi incluída mais recentemente, pela Lei 13.142/2015. Quando a vítima é um agente de segurança pública, por exemplo, a lesão corporal gravíssima ou seguida de morte adquire caráter hediondo.
Epidemia com resultado morte
Esse tipo penal, apesar de raro, foi reforçado em razão de preocupações sanitárias. Seu enquadramento como hediondo mostra o peso da saúde coletiva na legislação penal.
Falsificação de medicamentos
A adulteração ou falsificação de medicamentos também integra o rol hediondo, pois ameaça diretamente a saúde da população.
Exploração sexual de crianças, adolescentes ou vulneráveis
O legislador incluiu o favorecimento da prostituição e outras formas de exploração sexual de pessoas vulneráveis no rol, para proteger os mais frágeis.
Genocídio
Esse é o único crime hediondo que não está previsto no Código Penal. Uma legislação penal especial, a Lei 2.889/1956, trata desse crime, e o legislador o incluiu no parágrafo único do artigo 1º da Lei dos Crimes Hediondos.
E o tráfico de drogas, tortura e terrorismo?
Muita gente acredita, equivocadamente, que esses crimes também estão na Lei 8.072/1990. No entanto, eles são tratados por leis próprias:
- O tráfico de drogas está na Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas).
- A tortura é regulada pela Lei 9.455/1997.
- O terrorismo, por sua vez, ganhou uma legislação própria: a Lei 13.260/2016.
A lei equipara esses delitos aos hediondos, ou seja, aplica a eles o mesmo tratamento jurídico, embora não os inclua no rol da Lei 8.072. Atenção redobrada a esse detalhe, pois ele costuma aparecer em questões de prova.
Tratamento penal e processual diferenciado
Além de definir os crimes, a Lei 8.072/1990 impõe uma série de vedações e restrições que tornam o tratamento desses delitos mais rigoroso. Entre elas, destacam-se:
- Vedação à fiança: A Justiça não permite que o acusado seja solto mediante pagamento de fiança.
- Proibição de anistia, graça e indulto: o Estado não pode perdoar ou reduzir a pena por meio dessas medidas.
- Progressão de regime mais lenta: a mudança de regime só ocorre após o cumprimento de 40% ou 60% da pena, dependendo da reincidência e do comportamento.
- Início do cumprimento da pena em regime fechado: independentemente das circunstâncias do crime, a pena começa no regime mais severo.
Essas medidas visam aumentar o rigor na repressão desses delitos, atendendo a uma demanda social por justiça mais firme diante de crimes de alta gravidade.
Dicas finais para quem está estudando
- Decore o artigo 1º da Lei 8.072/90: Não basta ler uma vez. É preciso memorizar quais crimes são hediondos e entender os detalhes de cada um.
- Fique atento às pegadinhas: Feminicídio, por exemplo, não aparece com esse nome na lei, mas é sim hediondo. O mesmo vale para crimes equiparados, que não fazem parte da Lei 8.072, mas recebem o mesmo tratamento.
- Estude com casos práticos: Isso ajuda a fixar o conteúdo e a interpretar questões mais complexas.
- Leia as atualizações legislativas: Leis futuras podem alterar o rol, como já aconteceu em 2015.
Conclusão
A Lei de Crimes Hediondos representa um marco dentro do Direito Penal brasileiro, pois cria um sistema mais rígido para crimes de elevada gravidade. Por isso, os concursos cobram essa lei com frequência, e você deve colocá-la no topo das suas prioridades de estudo.
Compreender sua origem, estrutura e aplicação não apenas facilita sua jornada nos estudos, como também amplia sua visão crítica sobre o papel da legislação penal na sociedade. Então, revise com atenção, pratique com questões comentadas e aprofunde seu conhecimento. Essa é, sem dúvida, uma matéria que pode fazer toda a diferença na sua aprovação.